A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço!

Martinho Lutero

31/08/2012

Como Mudar sua Igreja...




Por Mark Dever - 
Pastores sempre me perguntam: "Como fazer para que minha igreja mude?" Muitos ministros têm alienado suas igrejas na tentativa de promover mudança, a tal ponto de alguns serem afastados do ministério.

Mesmo assim, como pastores, temos de levar nossas igrejas a mudanças, muito embora isto seja difícil. Aqui estão algumas sugestões sobre como promover mudança: ensinar, permanecer e amar.

Ensine a mudar

Primeiro, as ideias a serem aplicadas em nossas igrejas deveriam vir das Escrituras. Isso faz do púlpito a ferramenta mais poderosa para mudar uma igreja. A pregação expositiva constante é um meio que o Espírito Santo normalmente usa para falar aos corações humanos.

Ore para que através de sua pregação, Deus venha a ensinar a igreja como ela precisa mudar. É impressionante a frequência com que nós, pastores, queremos consertar os problemas, antes de termos tempo para explicá-los!

Muitos pastores tentam forçar a mudança em suas igrejas - quase sempre defendendo tais medidas como atribuição da liderança - quando deveriam informar a igreja a respeito da mudança pretendida. Irmãos, devemos alimentar o rebanho confiado ao nosso cuidado e não bater nele. Ensinem o rebanho.

Mesmo que a mudança que você vislumbra seja correta, ainda há a questão de o tempo ser ou não adequado. Ser correto não é uma licença para uma ação imediata, o que me leva ao segundo ponto.

Permaneça para mudar


A ideia de se comprometer com um lugar está desaparecendo, tanto no local de trabalho quanto no lar. O modelo para as gerações mais jovens não é como uma escada corporativa pré-fabricada, com passos cuidadosamente limitados, e sim como o mosaico da rede mundial (world-wide web), com alternativas e opções, parecendo espalhar-se infinitamente. Assim, somos ensinados a valorizar experiências variadas, entendendo cada uma como um enriquecimento para a outra.

Nós, pastores, precisamos estabelecer um modelo diferente em nossas igrejas. Precisamos ensinar-lhes que compromisso é bom, quer seja para com nosso casamento, família e nossa fé, ou nossa igreja e nossa vizinhança. É sob a luz de tais compromissos a longo prazo (não pensando em termos de meses, mas de décadas) que podemos ajudar nossa igreja a encontrar suas prioridades certas.

Como um pastor, seu maior poder de ajudar sua congregação a mudar não vem da força de sua personalidade, mas através de anos de ensino fiel e paciente. Mudanças que não acontecem neste ano podem vir no ano seguinte, ou em dez anos.

Para este fim, escolha suas batalhas com sabedoria, cuidadosamente, priorizando uma mudança necessária após a outra. Quais mudanças escolhidas são as mais necessárias e mais urgentes? Qual delas pode esperar? Falando de modo geral, os pastores precisam aprender a pensar de uma maneira madura e a longo prazo.

Pastorados longos também ajudam o pastor. Eles o impedem de se tornar um portador de novas ideias, colocando-as em prática por dois ou três anos e, depois desse tempo, ter de mudar-se para colocá-las em prática em outro lugar. Geralmente, quanto mais tempo ficamos, mais realistas temos de ser - e isso é bom para nossa própria alma e para aqueles a quem servimos.

A chave para uma mudança é ficar em uma igreja o tempo suficiente para ensinar a congregação. Se você não planeja ficar, então tenha cuidado antes de começar algo que o próximo pastor terá de terminar. Não deixe a congregação tornar-se insensível com você ou com o seu sucessor, ou mesmo contra a mudança necessária.

Quando eu era um jovem seminarista, adotei três clérigos anglicanos, de Cambridge, como meus modelos. Todos tinham ministérios onde pregavam expositivamente em seus púlpitos, durante muitos anos - Richard Sibbes (em Cambridge e Londres, por 30 anos), Charles Simeon (em Cambridge, por mais de 50 anos), e John Stott (em Londres, por mais de 50 anos). Pela graça de Deus, estes três pastores construíram as igrejas onde serviam, e tiveram efeito sobre a emergente geração ministerial, mediante sua longa fidelidade.

Ame para mudar

Para desejar as mudanças corretas, ensinar sobre elas, e ficar tempo suficiente, você tem de amar. Você tem de amar o Senhor e amar o povo que Ele lhe confiou.

Clemente de Roma disse: "Cristo pertence aos humildes de coração, e não àqueles que se exaltam sobre o seu rebanho". Do amor procede o cuidado paciente que, continuamente, dirige a congregação para a Palavra de Deus.

Jonathan Edwards não foi um pastor menos fiel somente porque sua congregação o demitiu. Alguns de nós tivemos pastorados curtos e fiéis. Mas este tipo de pastorado não é minha preocupação aqui. Com este breve artigo, simplesmente tentei levantar em sua mente algumas ideias de como você pode - ensinando, permanecendo e amando - levar sua congregação à mudança bíblica.


O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel. 

- Sobre o autor: Mark Dever é pastor da Igreja Batista de Capitol Hill, no distrito de Washington; fundador do ministério 9Marcas e um dos organizadores do ministério Juntos Pelo Evangelho; conferencista internacional e autor de vários livros, incluindo os livros "Nove Marcas de Uma Igreja Saudável","Refletindo a Glória de Deus" e "Deliberadamente Igreja", todos publicados em português pela Editora FIEL.
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21/08/2012

UNIVERSAL DO REINO DE DEUS E DEUS É AMOR:SEITAS DESTRUTIVAS?





por Johnny Bernardo



As seitas do mal, segundo o pesquisador Michael Green, geralmente são fundadas por uma única pessoa que retém todo o poder na organização. Entre as principais características do líder de uma seita, segundo Green, destacam-se o carisma, o magnetismo pessoal e o entusiasmo pela causa que defende ou “produto” que vende. Dono de uma habilidade que faz com que as pessoas o sigam sem questionamentos, o líder comanda seus fieis como seus devotos. Praticamente endeusado, ele se torna o comandante supremo e a sua vontade deve ser obedecida.

Outras características destacadas por Green e demais pesquisadores de movimentos destrutivos, como Rick A. Ross, são o extremo centralismo administrativo, isolamento psicológico e social de adeptos, mentalidade preto-e-branco, uso de profecias como forma de controle e manipulação etc. Tais características e outras mais podem ser identificadas em igrejas evangélicas? Até que ponto denominações como a Universal do Reino de Deus e a Pentecostal Deus é Amor podem ser consideradas “movimentos destrutivos” e/ou que possuem elementos "destrutivos" em sua estrutura doutrinária? Há quem afirme que sim, com base em uma série de discursos e publicações das referidas instituições religiosas.

Uma das primeiras relações com movimentos destrutivos – e que não ocorre apenas na IURD e IPDA – é o extremo centralismo administrativo e o desenvolvimento de um messianismo moderno, em que as figuras de Edir Macedo e David Miranda são seguidas e respeitadas por seus adeptos. Tal sujeição faz com que, mesmo diante de denúncias e polêmicas envolvendo seus líderes máximos, os adeptos continuem a segui-los e a defendê-los. Embora com mais frequência na IURD, na IPDA temos algo semelhante. Apesar de não se enquadrar na categoria neopentecostal, a Deus é Amor é a que mais se aproxima da Igreja Universal. David Miranda, fundador e atual presidente mundial da IPDA, conduz a igreja como sua "propriedade particular", interferindo na maneira de pensar e agir de seus adeptos. 

A centralização do poder nas mãos da família Miranda e o rígido controle dos membros e patrimônios da IPDA seria, pelo menos internamente, indícios de manipulação? A imposição de normas de conduta e relacionamento (a IPDA proíbe que os seguidores mantenham contato com ex-membros), às mortificações carnais (devem praticar horas seguidas de jejum e oração), e a exigência de que o dízimo seja entregue com pontualidade às filiais (sob pena de não participação na ceia) também seriam indícios de programação? Nos movimentos destrutivos, segundo Michael Green, a programação é a forma pela a qual os líderes preparam seus adeptos para que estes se dediquem fielmente aos programas e doutrinas da instituição religiosa. Na programação, a personalidade e a mentalidade dos adeptos devem ser destruídas como forma de submissão. A vida dos adeptos – e suas economias – deve ser dedicada à nova fé. 

Manipulação 

As pessoas que recorrem aos templos da IURD são submetidas a intensas técnicas de manipulação psicológica. Segundo uma ex-fiel da Igreja Universal (citada na matéria “Ciência dos transes”, Época, 28/4/2003), os bispos e seus auxiliares são instruídos de que maneira devem conduzir os exorcismos. “Quando a pessoa está tonta, fica mais aberta para manifestar os demônios”, diz a obreira Aparecida Santos, ex-fiel da Igreja Universal, atualmente na Igreja Internacional da Graça de Deus. Ela costuma pôr a mão na cabeça dos fieis e fazê-la rodar. Outro recurso que funciona é tocar músicas altas no teclado, com acordes bem tenebrosos. “Porque o demônio não gosta de silêncio”, explica a obreira. Aparecida aprendeu as técnicas do exorcismo na Universal, onde passou cinco anos como auxiliar de pastores”. 

Realizado pela primeira vez em 28 de março de 2011, o “Jejum de Daniel” (período de 21 dias em que os fieis devem se concentrar nos discursos da igreja e se isolar do mundo, sendo proibidos de ter acesso a qualquer tipo de informação, seja por meio de jornais, sites, rádio ou televisão) é outro método utilizado pela IURD na tentativa de isolamento dos fieis. No site IURD.pt encontramos a seguinte afirmação. “O jejum, para muitos, indica apenas o abster-se da bebida e da comida, e esse é o jejum normal. Já o santo jejum não está relacionado só com isso. E o que é que o/a impede de estar em espírito? Por exemplo, ler livros ou revistas que não falem de Deus, ouvir músicas ou notícias que não falem de Deus, ou seja, que não o/a conectem a Ele e não alimentem o seu espírito. Iremos fazer um jejum que inclui não assistir televisão, não usar a Internet, não ler revistas e livros, etc. Vamos orar três vezes por dia, de manhã, à tarde e à noite, e você vai fazê-lo e vai-se santificar, fortalecer e investir no seu espírito, para que seja cheia d’Ele”. 

Restringir o acesso à informação é uma prática comum aos movimentos destrutivos, sendo usada como parte da programação do novo adepto. Além das restrições impostas durante o “Jejum de Daniel”, há informações de que os membros da IURD são orientados a assistirem apenas a Rede Record de televisão, de propriedade da Igreja. As críticas a Igreja Mundial do Poder de Deus e a produção de uma reportagem sobre os 35 anos de história da Igreja Universal, veiculadas em órgãos de comunicação ligados à IURD, também são vistas como mecanismos de manipulação e domínio do mercado religioso. Na IPDA, a televisão é tida como a “imagem da besta”, e tema proibido entre os membros. Apenas recentemente a Internet foi liberada para a membrasia, embora com certas restrições. Apesar da liberação, em recente discurso na sede mundial, David Miranda se referiu as redes sociais Twitter e Facebook como “ferramentas do diabo". 

Profecias 

Em artigos e livros publicados por Edir Macedo e bispos da IURD, a presença de profecias bíblicas referentes ao fim do mundo são temas recorrentes. Além de uma série e agora volume único, o livro Estudo do Apocalipse, de Edir Macedo, explora ao máximo a temática. Em seu blog, o fundador da IURD também publica, como certa frequência, temas ligados ao Apocalipse. Em recente artigo publicado na Arca Universal (site ligado à IURD), é dito que a atual geração poderá presenciar o fim do mundo. Na IPDA, apesar de poucas referências ao fim do mundo, há uma forte ênfase na “condenação eterna”.

O uso de temas apocalípticos é algo comum aos movimentos destrutivos, como na Família Internacional, o Ramo Davidiano, o Templo dos Povos, e, mais recentemente, no Ministério Internacional Creciendo en Gracia. Por meio de tais profecias e referências, os líderes dos movimentos destrutivos mantêm os adeptos sob controle, temerosos das possíveis consequências do afastamento de sua fé. 

Extensão 

Outras denominações evangélicas – particularmente as pentecostais – também podem ser enquadradas na identificação proposta por Green? É uma questão controversa, porém de fácil compreensão e análise. À medida que líderes evangélicos impõem restrições abusivas aos membros, exploração de temas apocalípticos com finalidade de impor medo aos ouvintes, uso de técnicas de manipulação psicológica etc. podem desencadear num movimento destrutivo, com desdobramentos irremediáveis

Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/2012/08/universal-do-reino-de-deus-
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15/08/2012

Se eu tiver fé, poderei fazer mais milagres do que Jesus? DITOS DIFÍCEIS DE JESUS


 


Por Augustus Nicodemus


Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai (João 14.12).

Jesus fez esta promessa aos seus discípulos na noite em que foi traído, antes de ir com eles para o Getsêmani, durante o jantar em que instituiu a Ceia. O Senhor falou que iria para o Pai preparar lugar para os discípulos (Jo 14.1-4), e em seguida explicou como eles chegariam lá (14.5-6). Respondendo ao pedido de Filipe para que lhes mostrasse o Pai, Jesus explica que Ele está de tal forma unido ao Pai, que vê-lo é ver o Pai (14.7-9). E como prova de que Ele está no Pai e o Pai está nEle, Jesus aponta para as obras que realizou (14.10-11). E em seguida, faz esta promessa, “aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (14.12).

Este dito de Jesus é difícil porque parece prometer que seus discípulos seriam capazes de realizar os milagres que Ele realizou, e até mesmo maiores, se somente cressem nEle – e pelo que lemos no livro de Atos e na história da Igreja, esta promessa não parece ter-se cumprido. Compreender o real sentido desta passagem tem se tornado ainda mais crucial pois ela tem sido usada, após o surgimento do movimento pentecostal e seus desdobramentos, para defender modernas manifestações miraculosas, iguais e maiores dos que as efetuadas pelo próprio Jesus Cristo.

Há duas principais tentativas de interpretar este dito de Jesus:

1. As “obras” são os milagres físicos realizados por Jesus
A interpretação popular e mais comum, aceita pela maioria dos evangélicos no Brasil (esta maioria, por sua vez, é composta na maior parte por pentecostais e neopentecostais), é que Jesus realmente prometeu que seus discípulos seriam capazes de realizar os mesmos milagres que Ele realizou, e mesmo maiores. É importante notar que muitos membros de igrejas históricas, como presbiterianos, batistas, congregacionais e episcopais, entre outros, também foram influenciados por este ponto de vista. Nesta interpretação, a palavra “obras” é entendida exclusivamente como se referindo aos milagres físicos que Jesus realizou, como curas, exorcismos e ressurreição de mortos. Os adeptos desta interpretação entendem que existem hoje pastores, obreiros e crentes com capacidade para realizar os mesmos milagres de Jesus – e até maiores. 

Defendem que curas, visões, revelações e de outras atividades miraculosas estão acontecendo no seio de determinadas igrejas nos dias de hoje, exatamente como aconteceram nos dias de Jesus e dos apóstolos. E desta perspectiva, se uma igreja evangélica não realiza estes sinais e prodígios, significa que ela é fria, morta, sem fé viva em Jesus.

Apesar desta interpretação parecer piedosa e cheia de fé (e é por isto que muitos a aceitam), tem algumas dificuldades óbvias. Primeira, apesar dos milagres que realizaram, nem os apóstolos, que foram os cristãos mais próximos desta promessa, parecem ter suplantado aqueles de Jesus, em número e em natureza. Jesus andou sobre as águas, transformou água em vinho, acalmou tempestades e suas curas, segundo os Evangelhos, atingiram multidões. Não nos parece que os apóstolos, conforme temos no livro de Atos, suplantaram o Mestre neste ponto. Segundo, a História da Igreja não registra, após o período apostólico, a existência de homens que tivessem os mesmos dons miraculosos dos apóstolos e que tenham realizado milagres ao menos parecidos com os de Jesus. 


Na verdade, os grandes homens de Deus na História da Igreja nunca realizaram feitos miraculosos desta monta, como Agostinho, Lutero, Wycliffe, Calvino, Bunyan, Spurgeon, Moody, Lloyd-Jones, e muitos outros. Os pregadores pentecostais que afirmam ser capazes de realizar milagres semelhantes, e ainda maiores, não têm um ministério de cura e milagres consistente e ao menos semelhantes aos de Jesus. O famoso John Wimber, um dos maiores defensores das curas modernas, morreu de câncer na garganta. Antes de morrer, confessou que nunca conseguiu curar uma criança com problemas mentais, e nem conhecia ninguém que o tivesse feito. 

Os cultos de cura de determinadas igrejas neopentecostais alegam milagres que são de difícil comprovação. Terceiro, esta interpretação deixa sem explicação o resto da frase de Jesus: “aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (14.12). E por último, esta interpretação implica que os cristãos que não fizeram os mesmos milagres que Jesus fez não tiveram fé suficiente, e assim, coloca na categoria de crentes “frios” os grandes vultos da História da Igreja e milhões de cristãos que nunca ressuscitaram um morto ou curaram uma doença.

Esclareço que não estou dizendo que Deus não faz milagres hoje. Creio que Ele faz, sim. Creio que Ele é poderoso para agir de forma sobrenatural neste mundo e que Ele faz isto constantemente. O que estou questionando é a interpretação desta passagem que afirma que se tivermos fé faremos milagres maiores do que aqueles realizados por Jesus.

2. As “obras” se referem ao avanço do Reino de Deus no mundo

A outra interpretação entende que Jesus se referia obra de salvação de pecadores, na qual, obviamente, milagres poderiam ocorrer. Os principais argumentos em favor desta interpretação são estes:

a. A expressão “quem crê em mim” é usada consistentemente no Evangelho de João para se referir ao crente em geral, em contraste com o mundo que não crê. Examine as passagens abaixo:

Jo 6:35 Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.

Jo 6:47 Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.

Jo 11:25-26 Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?

Jo 12:46 Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.

Fica claro pelas passagens acima que aqueles que crêem em Jesus são os crentes em geral, e que a fé em questão é a fé salvadora. Por analogia, a expressão “quem crê em mim” em João 14.12 também se refere a todo crente, e não àqueles que teriam uma fé tão forte que seriam capazes de exercer o mesmo poder de Jesus em realizar milagres – e até suplantá-lo!

b. O termo “obras” referindo-se às atividades de Jesus, é usado no Evangelho de João para se referir a tudo aquilo que Ele fez, conforme determinado pelo Pai, para mostrar Sua divindade, para salvar pecadores e para glorificar ao Pai. Veja estas passagens: Jo 4:34; 5:20,36; 6:28,29; 7:3; 9:3,4; 10:25,32,33,37,38; 14:10,11; 14:12; 15:24; 17:4. O termo “obras” não se refere exclusivamente aos milagres de Jesus, muito embora em algumas ocorrências os inclua. No contexto da passagem que estamos examinando, Jesus usa o termo “obras” para se referir às palavras que Ele tem falado: “Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” (Jo 14.10). É evidente, portanto, que não se pode entender o termo “obras” em Jo 14.12 como se referindo exclusivamente aos milagres físicos realizados por Jesus. O termo é muito mais abrangente e se refere à sua toda atividade terrena realizada com o fim de salvar pecadores: palavras, atitudes e, sem dúvida, milagres.

c. A frase “porque eu vou para junto do Pai” fornece a chave para entender este dito difícil. Enquanto Jesus estava neste mundo, sua ação salvadora era limitada pela sua presença física. Seu retorno à presença do Pai significava a expansão ilimitada do Reino pelo mundo através do trabalho dos discípulos, começando em Jerusalém e até os confins da terra. Como vimos, as “obras” que Ele realizou não se limitavam apenas aos milagres físicos, mas incluíam a influência dos mesmos nas pessoas e a pregação do Reino efetuada por Jesus. Estas obras, porém, estavam limitadas pela Sua presença física em apenas um único lugar ao mesmo tempo. As “obras maiores” a ser realizadas pelos que crêem devem ser entendidas deste ponto de vista: os discípulos, através da pregação da Palavra no mundo todo, suplantaram em muito a área de atuação e influência do Senhor Jesus, quando encarnado.

Adotar a interpretação acima não significa dizer que milagres não acontecem mais hoje. Estou convencido de que eles acontecem e que estão implícitos neste dito do Senhor Jesus. Entretanto, eles ocorrem como parte da obra de expansão do Reino, que é a obra maior realizada pela Igreja.

O dito de Jesus, portanto, não está prometendo que qualquer crente que tenha fé suficiente será capaz de realizar os mesmos milagres que Jesus realizou e ainda maiores – a Escritura, a História e a realidade cotidiana estão aí para contestar esta interpretação – e sim que a Igreja seria capaz de avançar o Reino de Deus de uma forma que em muito suplantaria o que Jesus fez em seu ministério terreno. Os milagres certamente estariam e estão presentes, não como algo que sempre deve acontecer, dependendo da fé de alguns, e não por mãos de pretensos apóstolos e obreiros super-poderosos, mas como resposta do Cristo exaltado e glorificado às orações de seu povo.
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Augustus Nicodemus é teólogo e escreve para O Tempora! O Mores! Divulgação: Púlpito Cristão.
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13/08/2012

O PRAGMATISMO EVANGÉLICO E O DECLÍNIO DA MENSAGEM BÍBLICA!






Por John Macarthur -



Pragmatismo é a noção de que o significado ou o valor é determinado pelas consequências práticas. É muito similar ao utilitarismo, a crença de que a utilidade estabelece o padrão para aquilo que é bom.

Para um pragmatista/utilitarista, se uma determinada técnica ou um curso de ação resulta no efeito desejado, a utilização de tal recurso é válida. Se parece não produzir resultados, então não tem valor.

O pragmatismo tem suas raízes no darwinismo e no humanismo secular. É inerentemente relativista, rejeitando a noção dos absolutos – certo e errado, bem e mal, verdade e erro. Em última análise, o pragmatismo define a verdade como aquilo que é útil, significativo e benéfico. As ideias que não parecem úteis ou relevantes são rejeitadas como sendo falsas.

Quando o pragmatismo é utilizado para formularmos juízos acerca do certo e do errado ou quando se torna a filosofia norteadora da vida, da teologia e do ministério, acaba, inevitavelmente, colidindo com as Escrituras. A verdade espiritual e bíblica não é determinada baseando-se no que “funciona” ou no que não “funciona”. Sabemos por intermédio das próprias Escrituras, por exemplo, que o evangelho frequentemente não produz uma resposta positiva (I Co 1:22-23; 2:14). Por outro lado, as mentiras satânicas e o engano podem ser bastante eficazes (Mt 24:23-24; II Co 4:3-4). A reação da maioria não é um parâmetro seguro para determinar o que é válido (Mt 7:13-14), e a prosperidade não é uma medida para a veracidade (Jó 12:6). O pragmatismo como uma filosofia norteadora do ministério é inerentemente defeituoso e como uma prova para a veracidade é satânico.

Para muitos, a quantidade de pessoas nos cultos tornou-se o principal critério para se avaliar o sucesso de uma igreja, aquilo que mais atrai o público é aceito como “bom”, sem uma análise crítica. Isso é pragmatismo.

Pior ainda, a teologia concede à metodologia lugar de honra. Na igreja contemporânea, tudo parece estar na moda, exceto a pregação bíblica! Assim, o pragmatismo representa para a igreja de hoje exatamente a mesma ameaça sutil que o modernismo representou há quase um século. O modernismo começou como uma metodologia, mas logo se tornou uma teologia singular.

Ao menosprezar a importância da doutrina, o modernismo abriu a porta para o liberalismo teológico, o relativismo moral e a incredulidade aberta! Se existe algo que a história nos ensina é que os ataques mais devastadores desfechados contra a fé sempre começaram com erros sutis surgidos dentro da própria igreja.

Por viver em uma época tão instável, a igreja não pode se dar ao luxo de vacilar. Ministramos a pessoas que buscam desesperadamente respostas; por isso, não podemos amenizar a mensagem ou abrandar o evangelho. Se fizermos amizade com o mundo, nos tornaremos inimigos de Deus. Se nos dispusermos a crer em artifícios mundanos, estaremos automaticamente abrindo mão do poder do Espírito Santo.

A fraqueza da pregação em nossos dias não brota de lábios excêntricos e frenéticos que discursam sobre o inferno; resulta de homens que comprometem a mensagem e temem proclamar a Palavra de Deus com poder e convicção. A igreja certamente não manifesta uma superabundância de pregadores sinceros e objetivos; de fato, ela parece repleta de ministros que adulam os homens (Cf. Gl 1:10).

Sutilmente, em vez de uma vida transformada, é a aceitação por parte do mundo e a quantidade de pessoas presentes aos cultos o que vem se tornando o alvo maior da igreja contemporânea.

Contudo, devemos estar conscientes de que tamanho de igreja não é sinônimo da bênção de Deus; e a popularidade não é barômetro de sucesso. O verdadeiro sucesso não é prosperidade, poder, proeminência, popularidade ou qualquer outro conceito mundano de sucesso. Sucesso genuíno é fazer a vontade de Deus apesar das consequências!

Muitos cristãos professos aparentam se importar mais com a opinião do mundo do que com a de Deus. As igrejas manifestam tanta preocupação em agradar os não-crentes, que muitas esqueceram que seu primeiro propósito é agradar a Deus (II Co 5:9). A igreja se contextualizou a tal ponto, que se deixou corromper pelo mundo.

Nós, que amamos o Senhor e à sua igreja, não devemos ficar assentados enquanto a igreja ganha ímpeto em direção ao declínio que leva ao mundanismo e ao comprometimento do evangelho. Homens e mulheres pagaram com seu próprio sangue o preço de passarem a nós uma fé genuína. Agora é a nossa vez de preservarmos a verdade; e esta é uma tarefa que requer coragem, sem compromisso com o erro. Trata-se de uma responsabilidade que exige devoção inabalável a um propósito muito específico!

***
Fonte: Refletindo.com http://refletindopontocom.blogspot.com.br via Minha vida em Cristo sem heresias.

John McArthur, Com Vergonha do Evangelho, (São José dos Campos, SP. Editora Fiel, 1997). Trechos selecionados dos três primeiros capítulos
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11/08/2012

A Predestinação e o Amor de Deus!

 
 
 
 
Por Matt Perman

Cada cristão deveria estudar a predestinação. É uma doutrina de vital importância porque tem a ver com a pessoa de Deus e como Ele nos salva. Martinho Lutero disse que ela se encontrava no coração do Evangelho. O fato de pensar que o que cremos, a respeito da predestinação, não é importante, seria como dizer: Deus, estou contente por ter me salvado. Mas não sei como fizeste isso. Como um filho de Deus não se deleita em compreender o plano que Deus executou para salvá-lo, ou salvá-la?

Como veremos, ter uma correta convicção a respeito da predestinação é de fato dar a Deus a glória que Lhe é devida. E isso pode fazer vislumbrar a maravilhosa experiência do conhecer o que, de fato, significa ser amado por Deus para sempre. Mas antes de provar a glória e o amor de Deus percebidos na predestinação, é importante definir o que é predestinação e aonde que a Bíblia ensina isso.

O que é predestinação?

Em sua forma mais elementar, predestinação (algumas vezes denominada eleição) simplesmente significa que Deus decide quem Ele irá salvar. Esse aspecto doutrinário não possui controvérsias. O aspecto controvertido vem quando perguntamos: Em que se baseia Deus para decidir quem será salvo? Há duas posições para isso. Uma é chamada a visão Arminiana, a qual sustenta que Deus escolhe salvar aqueles que Ele dantes sabia que iriam escolhê-Lo. Nessa visão, compete ao indivíduo, afinal, ser salvo ou não; então Deus escolhe, em resposta à escolha individual. Não é isso o que eu entendo por predestinação.

Acredito que a Bíblia ensina o que é comumente chamado de Calvinismo. Deus decide incondicionalmente quem será salvo à parte de qualquer condição encontrada na pessoa. Significa dizer que é Deus quem decide, afinal, quem irá crer em Cristo e quem será salvo. Deus baseia Sua decisão em Si próprio e apenas em Seu santo propósito, não numa fé preconcebida que um pecador exercitaria através de seu livre-arbítrio. De fato, a humanidade é tão pecadora que se Deus nos deixasse a escolha final para a salvação, todos nós O rejeitaríamos

Onde isso é ensinado?

Esse ensinamento, denominado eleição incondicional, é abundantemente ensinado na Bíblia. Jesus disse para Seus discípulos que vós não Me escolhestes a Mim, mas Eu vos escolhi a vós... (Jo 15:16). Em João 10:26, Jesus disse aos judeus incrédulos que vós não credes, porque não sois das Minhas ovelhas. Ele não disse vós não sois Minhas ovelhas, porque não crêem. Ele disse o contrário. Notoriamente, você não se torna uma ovelha pela fé. Deus deve ter escolhido fazer de você uma ovelha antes de você vir a crer. E aqueles que Deus torna ovelhas de Cristo sempre virão a Ele. As Minhas ovelhas ouvem a Minha voz, e Eu as conheço, e elas Me seguem; Eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da Minha mão. (Jo 10:27-28). Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; a essas também Me importa conduzir, e elas ouvirão a minha voz (Jo 10:16).

Atos 13:48 nos dá o motivo pelo qual alguns dos que ouviram as pregações de Paulo creram: e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna. Em Romanos 9:16, Paulo nos relata que aquela eleição não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia. Os Arminianos dizem que a eleição é para o homem que a quiser. O Calvinismo diz que não é para o homem que a quiser. O apóstolo Paulo não estabeleceu definitivamente o resultado neste versículo?

Em Romanos 9:10-13 Paulo dá Jacó e Esaú como exemplos de dois tipos de pessoas, o eleito e o não-eleito, e então diz que pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama, foi-lhe dito: O maior servirá ao menor. Como está escrito, Amei a Jacó, e aborreci a Esaú. Paulo é claro [ao dizer] que a escolha de Deus não está em nada baseada no indivíduo. Se isso não está claro a você, eu te encorajo a ler novamente o versículo.

Romanos 9:18 também é muito claro [ao dizer] que a salvação é escolha definitiva de Deus, não do homem. Portanto, tem misericórdia de quem quer, e a quem quer endurece. Romanos 11:6 diz que os Judeus crentes no dia de Paulo eram uns remanescentes conforme a graciosa escolha de Deus. Em II Timóteo 2:25 aprendemos que o arrependimento é causado por Deus e Ele afinal decide se a pessoa irá se arrepender ou não: ...corrigindo com mansidão os que resistem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade."

Em Efésios 1:4-6 Paulo nos diz que [Deus] nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dEle em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito de Sua vontade. Ele relata que a predestinação é baseada junto ao bel-prazer da vontade de Deus, não da nossa.

Deus é capaz de salvar aquele em quem Ele se apraz, o que faz dEle o único que finalmente determina os que recebem a salvação. ...o Filho dá a vida a quem Ele quer (Jo 5:21). Se Deus se propõe em salvar uma pessoa, Ele efetuará seu propósito a todo o instante: Todo o que o Pai Me dá virá a Mim; e o que vem a Mim de maneira nenhuma o lançarei fora. (Jo 6:37). De acordo com este versículo, quem vem a Jesus? Resposta: aqueles que o Pai Lhe deu! A razão pela qual uma pessoa vem a Jesus é porque o Pai primeiramente a escolheu para dar-lhe a Jesus, e ninguém daqueles escolhidos para salvação deixarão de vir. Evidentemente, o ser humano não tem o poder definitivo de veto para malograr a vontade salvífica de Deus. Jó diz a Deus que Bem sei que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido (Jó 42:2).

A Predestinação é centrada em Deus

Pelo fato de Deus ser o mais valioso e mais virtuoso ser no Universo, a meta de Deus em tudo que Ele faz é glorificar a Si mesmo. Se Ele, afinal, não atuasse para Sua glória em todas as coisas, Ele não seria justo. Isto ocorre porque Ele estaria designando o valor de algo mais, acima da infinita virtude de Sua glória. Com a predestinação, não é diferente. Sua meta final nesta é glorificar a Si mesmo: e [Ele] nos predestinou... para o louvor da glória da Sua graça. (Ef 1:5-6)

Mas [o fato de] Deus buscar Sua própria glória em todas as coisas não é desamor. Ao invés disso, Quando você pára para pensar sobre isso, esta é a coisa mais amorosa que Deus já pôde fazer até hoje; pois o maior benefício que os seres humanos podem receber até agora é de conhecer e de participar da glória de Deus. [1] O propósito de Deus de glorificar a Si mesmo não é estranho com o Seu amor por nós! Para Deus, significa atuar em amor maior justamente quando Ele atua à busca de Sua glória! O Teocentrismo do amor de Deus é algo maravilhoso! Mesmo ao nos amar, o valor superior da virtude de Deus é magnificado.

A grandeza do amor eletivo de Deus

Desta forma, a eleição é ao mesmo tempo glorificar a Deus e é também a expressão final do amor de Deus. Por conseguinte, se não temos um entendimento conveniente sobre a eleição, não teremos um entendimento conveniente sobre o modo pelo qual Deus nos ama. Mas se entendemos e cremos que Deus incondicionalmente escolheu para nos salvar isto nos evidenciará a irresistível experiência de ser amado pessoalmente pelo vigoroso amor eletivo de Deus. [2]

No Novo Testamento, a eleição, por parte de Deus, individual e incondicional dos Seus santos, novamente está cada vez mais aliada ao Seu amor por cada um deles de maneira individual. [3] Conhecendo, irmão, amados de Deus, a vossa eleição (I Ts 1:4). Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de coração compassivo, de benignidade... (Cl 3:12). Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos) (Ef 2:4-5). A construção em grego de João 13:1 indica que Deus ama Seus filhos de maneira mais completa do que Sua capacidade de amar as criaturas. ...tendo amado a Si mesmo que estava no mundo, Ele os amou até o fim. [4] Ademais, o amor de Deus por Seus filhos não tem começo nem fim. Ele não começou a te amar quando você nasceu, mas quando você foi feito uma de Suas ovelhas, Ele tem te amado para sempre. Pois que com amor eterno te amei, também como benignidade te atraí. (Jr 31:2-3). Mas é de eternidade a eternidade a benignidade do Senhor sobre aqueles que O temem. (Sl 103:17). Agora considere essa grande verdade: se você é crente em Cristo, isto [ocorre] porque Deus te escolheu de maneira pessoal, individual, incondicional e cheia de amor, para a salvação, antes da fundação do mundo.

O especial amor eletivo de Deus é grande conforto e força para o coração. Muitas pessoas não têm experiência pessoal de conhecer que foram eternamente amadas por Deus e por Ele serão cuidadas com amor onipotente e supridor de todas [as necessidades] para todo o sempre. Muitas pessoas pensam no amor de Deus apenas em termos de algo que oferece e espera, mas não nos conduz a Ele mesmo e atua com entusiasmo infinito para nos manter e nos glorificar para sempre. Ainda esta é a experiência disponível para todo aquele que vier e beber de graça da água da vida (Ap 22:17). [5]

Enquanto é verdade que Deus ama a todas as pessoas (não apenas Seus eleitos), Ele não ama a todos da mesma maneira. Ele ama Seus eleitos com um amor especial, vigoroso, intenso, afetivo e eletivo que não pode falhar. Você já se habituou a crer que Deus ama aqueles que são condenados eternamente ao inferno da mesma maneira que Ele te ama, uma de suas ovelhas? Se sim, apague essa idéia da sua mente; se não, ela encobrirá sua experiência do amor de seu Pai por mais tempo. Regozije-se na grandeza do Seu especial amor por você. Para Deus, amar Seus santos da mesma maneira que Ele ama aqueles que Ele condenou eternamente ao inferno seria como um esposo dizendo: Claro, eu amo minha esposa. Mas eu a amo da mesma maneira que amo todas as outras mulheres.

A eleição incondicional de Deus por você é uma expressão do profundo amor dEle por você. Ser incondicionalmente escolhido significa simplesmente ser incondicionalmente amado. Muitos evangélicos norte-americanos adoram falar do amor incondicional de Deus; entretanto, furtam a si mesmos o conforto e o deleite das grandes implicações que ele traz que o amor incondicional é manifestado na eleição incondicional. J. I. Packer descreve como a recusa do amor incondicional de Deus e o invencível amor eletivo tem resultado numa redução da grandeza do Evangelho nas mentes de muitos norte-americanos: Falamos do trabalho remidor [de Cristo] como se Ele não tivesse feito nada mais do que agonizar o mais possível por nós para nos salvarmos pela fé; falamos do amor de Deus como se este não fosse mais do que a boa vontade de receber aquele que irá mudar [de vida] e crer; e depreciamos o Pai e o Filho, não quanto à atuação independente em conduzir pecadores a Eles, mas quanto ao esperar na silenciosa impotência da porta de nossos corações para Os deixarmos entrar. [6]

Também, freqüentemente, acabamos por mudar o tom do amor de Deus dentro do desejo impotente de salvar uma pessoa, o qual não atua decisivamente para realmente trazermos essa pessoa a Cristo. Não é o tipo de amor que o Novo Testamento ensina. O amor de Deus salva. Todo o que o Pai Me dá virá a Mim (Jo 6:37).

[Minhas ovelhas] jamais perecerão (Jo 10:28). Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida... nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 8:38-39). Porque os que dantes conheceu (isto é, primeiramente amou e escolheu), também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho... e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou. (Rm 8:29-30). O conhecimento primordial de Deus citado nesse versículo não significa que Ele olhou com desdém os corredores da história e predestinou aqueles que Ele primeiro conheceu como os que seriam por Ele escolhidos. Esse versículo fala de Deus conhecendo as pessoas, não os fatos. Na Bíblia, o conhecimento divino de alguém é algo pessoal e íntimo que envolve compromisso e seleção por Sua parte. Isso torna-se claro com o uso desse termo em muitas passagens, incluindo Jr 1:5 e Am 3:2. Em Jeremias 1:5 Deus diz, Antes que eu te formasse no ventre te conheci, e em Amós 3:2 Ele diz que De todas as famílias da terra só a vós (Israel) vos tenho conhecido [isto é, escolhido]. Jesus diz conheço as Minhas ovelhas, e elas Me conhecem (Jo 10:14). O que Romanos 8:29-30 diz é, então, que Todos aqueles que Deus escolheu para colocar junto de Seu amor e Ele pessoalmente Se comprometeu antes de ter criado o mundo, ... Ele também justificou.

O adágio popular Deus amará você lealmente até o inferno (com o intuito de preservar seu livre- arbítrio) insulta a grandiosidade do amor eletivo de Deus e faz dele antropocêntrico. Crendo em algo do tipo pode furtar de você uma apreciação e deleite completos da verdade do amor profundo e vigoroso de Deus por você.

J. I. Packer realiza um trabalho magistral ao mostrar a radical diferença de concepções do amor de Deus entre o Calvinismo e outras visões que fazem da salvação algo que, afinal, dependa de uma decisão pessoal, para se crer, ao invés disso, na soberana eleição de Deus. Ao passo que, para o Calvinismo, a eleição de Deus é quem resolve para salvar, para o Arminianismo a salvação não repousa nem na eleição divina nem na cruz de Cristo, mas com a cooperação de cada um aliada com a graça, que é algo que Deus não garante de Si mesmo. [7] Como resultado da visão Arminiana, Nossas mentes estão condicionadas a imaginar a cruz como uma redenção que realiza menos do que a libertação, e de Cristo como um Salvador que faz menos do que a salvação, e do amor de Deus como uma fraca afeição que não pode manter qualquer um no inferno sem auxílio, e da fé como a ajuda humana da qual Deus necessita para Seus propósitos... [8] O Calvário... não meramente fez possível a salvação para aqueles por quem Cristo morreu; isto garantiu que eles seriam trazidos para a fé e suas salvações tornar-se-iam reais. A cruz salva. Quando os Arminianos apenas disserem: Eu não posso ter conquistado minha salvação sem o Calvário, os Calvinistas irão dizer, Cristo conquistou minha salvação para mim no Calvário. [9]

Que concepção do amor de Deus é maior (sem mencionar, bíblica): a que diz que, em Seu amor, tudo o mais que Deus pode fazer é tornar possível a salvação, ou aquela que diz que o amor de Deus é tão maravilhoso e grandioso que pode trabalhar sempre de maneira eficaz para tornar realidade uma salvação pessoal? Como o amor de Deus pode ser sempre um rochedo de refúgio se sua eficácia depende, afinal, de se estar próximo à nossa vontade vacilante e pecadora? Se Deus me ama e deseja de todo o Seu coração me levar ao paraíso, para com Ele estar e experimentar eternamente de Seu amor, que bondade é essa se Ele é menos poderoso para garantir que isso irá acontecer? Os Arminianos louvam a Deus por Seu amor em providenciar um Salvador para todos os que possam vir a encontrar a vida; os Calvinistas o fazem da mesma forma, e então continuam a louvar a Deus por realmente trazê-los aos pés do Salvador. [10]

Evidentemente, a predestinação nos dá um entendimento conveniente da maravilhosa graça e amor de Deus. Seu amor não apenas faz possível nossa salvação, mas a torna realidade. Deus não barganha com as pessoas; Ele não oferece apenas a salvação para aqueles a quem Ele profundamente ama e pára aí; Ele faz o efetivo oferecimento Ele os salva. Podemos nos confortar nesse forte, poderoso, intenso e carinhoso amor de Deus que não irá cessar em nada para manter aquele que é amado para a perdição. Se nós não entendemos a nossa divina eleição, não podemos nos acalentar e nos deleitar em Seu grande amor por nós. Ademais, não podemos dar toda glória a Deus por Sua graça que nos salvou se pensarmos que tudo o que Deus fez foi nos tornar possível a salvação, mas não cuidou das medidas necessárias para nos salvar com certeza. Se pensarmos que nossa escolha foi o elemento decisivo em nossa salvação, não estaremos dando toda glória ao Senhor.

Há talvez um problema em sua mente sobre esse retrato do amor de Deus. Nos dias da Reforma, desde [então], os tratamentos do amor de Deus na eleição foram freqüentemente moldados, encobertos, e de fato havia opções por questionamentos de natureza abstrata sobre a soberania de Deus na condenação [escolhida não para salvar ninguém]. Mas no Novo Testamento, mais precisamente em Romanos 8:28-11:36 e em Efésios 1:3-14, a eleição é um tema pastoral, fascinante para encorajamento dos crentes, confirmação, sustento, e louvor. [11]. Imploro a você para deixar as Escrituras falarem. Deixem-nas contarem a você sobre o amor de Deus ao invés de moldar seu entendimento com suposições dos arredores, de como você pensa que Deus deveria amar ou não. Não deixe o fato de que Deus não escolheu amar todos da mesma maneira, de mantê-lo regozijado no amor especial, perfeito e vigoroso que Deus tem por você.

Concluindo, um correto entendimento sobre o amor de Deus, especialmente tal como manifesto na incondicional eleição, proverá para uma igreja forte, fiel, leal e cheia de alegria. (...) Força do caráter, fidelidade na conduta, coragem da convicção, humildade de espírito, e esperança para o futuro são todas sustentáculo para essas gloriosas doutrinas da graça. Com elas, a igreja será mais forte; sem elas, a igreja terá obstáculos. [12]

Notas

1. John Piper, O Prazer de Deus na Eleição, sermão dado em 22 de Fevereiro de 1987.
2. John Piper, Os Prazeres de Deus: Meditações no Deleite de Deus em ser Deus, (Portland, Estado do Oregon, Multnomah Press, 1991), pág. 148.
3. Bem cedo temos visto a base bíblica para a eleição como sendo uma escolha incondicional de Deus para os indivíduos que Ele iria salvar. Então, estamos numa sólida base bíblica ao conhecer esses versículos, que mencionam a escolha de Deus e a própria de Cristo no mesmo resplendor.
4. John MacArthur, O Amor de Deus, pág. 130.
5. Piper, Os Prazeres de Deus, pág. 148.
6. J. I. Packer, Uma Investigação sobre a Santidade: A Visão Puritana da Vida Cristã (Wheaton, Estado de Illinois: Crossway Books, 1990), pp. 126-127. Este capítulo é uma republicação [do livro] de Packer Salvo por Seu Precioso Sangue: Uma Introdução à Obra de John Owen A Morte da Morte na Morte de Cristo.
7. J. I. Packer, O Amor de Deus: Universal e Particular, in A graça de Deus, o Cativeiro da Vontade, vol. II, Thomas Schreiner e Bruce A. Ware. Edição (Grand Rapids, Estado de Minneapolis: Baker Books, 1995), pág. 421.
8. Packer, Uma Investigação sobre a Santidade, pág. 137.
9. Packer, Uma Investigação sobre a Santidade, pág. 131.
10. Packer, A Graça de Deus, pág. 421.
11. Packer, A Graça de Deus, pág. 417.
12. A Graça de Deus, vol. I, Introdução.

Todas as referências bíblicas foram extraídas da Bíblia Sagrada Nova Versão, copyright © 1960, 1962, 1963, 1968, 1971, 1972, 1975, 1977, pela Fundação Lockman.

Todas as referências bíblicas [na tradução] foram extraídas da Bíblia Sagrada, versão revisada da tradução de João Ferreira de Almeida, de acordo com os melhores textos em Hebraico e Grego, copyright © 1967, 1974 por JUERP/Imprensa Bíblica Brasileira.

Tradução: Cleber Olympio
Resto do Post

08/08/2012

Pelágio - A Heresia que continua hoje.


 
 
 
Por R. C. Sproul -

O nome pelagianismo tem sua origem a partir de um monge britânico que se engajou num debate ardente com Agostinho na igreja primitiva. Presumivelmente nascido na Irlanda, Pelágio tornou-se monge e eunuco. Movido em sua alma, ele chamava a igreja para uma perseguição vigorosa da virtude e até mesmo a perfeição moral. Passou muitos anos em Roma onde Coelestius e Juliano de Eclanum, um bispo que se tornara viúvo ainda jovem, se juntaram a ele no seu conflito com Agostinho. Dos três, Julianoera o mais culto. Também era o mais agressivo na controvérsia, embora tenha sido menos agitador do que Coelestius.

Adolph Harnack diz que Pelágio foi "levado à ira por uma cristandade inerte, que se desculpava alegando fragilidade da carne e a impossibilidade do cumprimento dos mandamentos opressivos de Deus". De acordo com Harnack, Pelágio "pregava que Deus não havia ordenado nada impossível, que o homem possuía o poder de fazer o bem se assim desejasse e que a fraqueza da carne era meramente um pretexto".

O princípio controlador do pensamento de Pelágio era a convicção de que Deus nunca ordena o que é impossível para o homem realizar. Para Pelágio, esse não era um princípio teológico abstrato mas um assunto que acarretava conseqüências práticas urgentes para a vida cristã. Ele se levantou inicialmente contra Agostinho por causa de um oração que Agostinho havia escrito: "Concede o que tu ordenaste, e ordena o que tu desejas".

Pelágio não discordava da última frase dessa oração. Na verdade, é virtualmente supérfula. Deus tem o direito de ordenar tudo o que deseja. Esta, claramente, é uma prerrogariva divina. A suposição, naturalmente, é de que o que Deus deseja das suas criaturas nunca era frívolo ou mal. Essa parte da oração de Agostinho não indica que Deus precisa da permissão humana para legislar seus mandamentos, mas refletia, em seu lugar, a postura de humilde submissão de Agostinho quanto ao direito divino de lei.

Pelágio exasperou-se com a primeira parte da oração de Agostinho: "Concede o que tu ordenaste..." O que Agostinho estava pedindo que Deus concedesse? Não poderia ser sua permissão, porque a criatura nunca precisa pedir permissão para fazer o que havia sido ordenado. Na verdade, ele precisaria de permissão para não fazê-lo. Agostinho, obviamente, estava pedindo outra coisa, algum tipo de dom para atender ao comando. Pelágio acertadamente supôs que Agostinho estava orando pelo dom da graça divina, que viria na forma de algum tipo de assistência.

Pelágio levantou a seguinte questão: A assistência da graça é necessária para o ser humano obedecer aos comandos de Deus? Ou esses comandos podem ser obedecidos sem essa assistência? Para Pelágio, a ordem de obedecer implicava habilidade para obedecer. Isso se aplicaria não apenas a lei moral de Deus mas também aos comandos inerentes ao evangelho. Se Deus ordena que as pessoas creiam em Cristo, então elas devem ter o poder de crer em Cristo sem a ajuda da graça. Se Deus ordena que os pecadores se arrependam, eles devem ter a habilidade de se inclinarem para obedecerem ao comando. A obediência não precisa, de forma alguma, ser "concedida".

A questão entre Pelágio e Agostinho era clara. Não estava ofuscada por argumentos teológicos intrincados, especialmente no começo. "Nunca houve, talvez, uma crise de igual importância na história da igreja na qual os oponentes tenham expressado os princípios em debate tão clara e abstratamente" - diz Harnack. "Somente a disputa Ariana antes do Concílio de Nicéia pode ser comparada a ela..."

Para Pelágio, a natureza não requer graça a fim de cumprir suas obrigações. O livre-arbítrio, adequadamente exercido, produz virtude, que é o bem supremo e devidamente seguido pela recompensa. Por meio do seu próprio esforço, o homem pode alcançar tudo o que se requer dele na moralidade e na religião.
Dezoito Premissas.

01) A base do pensamento de Pelágio é a premissa de que os mais altos atributos de Deus são a bondade e a justiça. Para Pelágio, esses atributos são a condição sine qua non do caráter divino. Sem os mesmos, Deus não seria Deus. É inconcebível um Deus que carece da perfeição da bondade e da justiça.

02) A segunda premissa sobre a qual Pelágio elabora é: se Deus é completamente bom, então tudo o que criou é igualmente bom. Toda a sua criação é boa, incluindo o homem. "Adão... foi criado por Deus sem pecado e inteiramente competente para todo o bem, com um espírito imortal e um corpo mortal", observa Philip Schaff, resumindo a visão de Pelágio. "Ele (Adão) - foi dotado com razão e livre-arbítrio. Com sua razão, ele deveria ter o domínio sobre todas as criaturas irracionais; com o seu livre-arbítrio, ele deveria servir a Deus. A liberdade é o bem supremo, a honra e a glória do homem, o bonum naturae, que não pode ser perdido. É a base única da relação ética do homem com Deus, que não teria um culto relutante. Ela consiste... essencialmente no liberum arbitrium, ou na possibilitas boni et mali; liberdade de escolha e na habilidade obsolutamente semelhante para o bem ou mal a cada momento"

Pelágio arraigou sua visão da natureza humana e do livre-arbítrio na sua doutrina da criação. O livre-arbítrio consiste essencialmente na habilidade de se escolher entre o bem e o mal. Essa habilidade ou possibilidade é a própria essência do livre-arbítrio, de acordo com Pelágio. Essa habilidade é dada ao homem por Deus na criação, e é um aspecto essencial da natureza constituinte do homem.

03) A terceira premissa de Pelágio é que a natureza foi criada não apenas boa mas incontestavelmente boa. Isso é verade "porque as coisas da netureza persistente desde o início da existência (substância) até o seu fim". Schaff diz de Pelágio:

Ele vê a liberdade na sua forma apenas, e em seu primeiro estágio, e lá ele a fixa e a deixa, no equilíbrio perpétuo entre o bem e o mal, pronta para se decidir por qualquer um a qualquer momento. Ela não tem passado ou futuro; absolutamente independente de tudo, seja interior ou exterior; um vácuo que pode se fazer pleno e , então, tornar-se um vácuo novamente; uma tábula rasa, sobre a qual o homem pode escrever tudo o que lhe agra; uma escolha impaciente, a qual, depois de cada decisão, reverte-se à indecisão e oscilação. A vontade humana é como se fosse o eterno Hércules na encruzilhada, que dá o primeiro passo para a direita e o segundo para a esquerda e sempre volta à primeira posição.

Se a vontade do homem é uma tábula rasa perpétua, então quando uma pessoa peca, a natureza da vontade não passa por uma mudança e nem por uma deformação. Não há uma corrupção inerente no homem. Não há predisposição ou inclinação para o pecado que é, em si mesma, um resultado do pecado. Cada ato de pecado flui de um novo começo, um bloco limpo de papel que não é inscrito a priori com alguma predileção.

04) A quarta premissa de Pelágio é que a natureza humana, como tal, é inalteravelmente boa. Isto é, a essência constituinte do homem permanece boa. A natureza não pode ser alterada na sua substância; só pode ser modificada acidentalmente. O termo acidentalmente aqui não significa que algo acontecesse sem intenção como um resultado do infortúnio. Ele refere-se à distinção de Aristóteles entre a substância de um objeto e seus accidens. Accidens refere-se ao que é exterior a alguma coisa, as qualidades perceptíveis, qualidades que estão na periferia e não são essencias ao ser desse algo. O comportamento de alguém pode ser mudado quando ele comete atos pecaminosos, mas essas ações não mudam a natureza desse alguém.

05) A quinta premissa de Pelágio, que se segue a partir das quatro primeiras, é que o mal ao pecado nunca pode transformar-se em natureza. Ele define o pecado como um desejo de fazer o que a justiça proibe, do qual somos livres para nos abstermos e, assim podemos sempre evitá-lo pelo exercício adequado da nossa vontade. O pecado é sempre um ato e nunca uma natureza. Caso contrário, Pelágio insiste, Deus seria o autor do mal. Os atos pecaminosos nunca podem causar uma natureza pecaminosa, e o mal também não pode ser herdado. Se pudesse, então a bondade e a justiça de Deus estariam destruídas.

06) Na sexta premissa, Pelágio explica que o pecado existe como o resultado das armadilhas de Satanás e da concupiscência sensual. Essas tentações ao pecado podem ser superadas pelo exercício da virtude. Nem a lascívia ao a concupiscência surgem da essência do homem mas é "extrínsica" a ela. Essa concupiscência não é, em si mesma má, porque até mesmo Cristo estava sujeito a ela. Isso dá origem a formulação história com relaão à concupiscência: ela é do pecado e inclina ao pecado mas não é, em si mesma, pecado.

07) A sétima premissa - conclui que sempre permanece a possibilidade e, na verdade, a realidade dos homens sem pecado. O homem pode ser perfeito e alguns têm sido. Essa tese rejeita categoricamente qualquer doutrina do pecado original, isto é, que os homens têm a natureza corrupta como resultado da queda de Adão. Isso conduz às teses nas quais Pelágio descreve a condição de Adão e de sua progenitura.

08) A oitava premissa - é que Adão foi criado com livre-arbítrio e uma santidade natural indubitável. Essa santidade natural compreendia a liberdade da sua vontade e da sua razão. Uma vez que essas faculdades eram dons dados por Deus na criação, podiam ser consideradas dons da graça. Não foram adquiridas por Adão, mas eram inerentes na sua criação.

09) A nona premissa - é que Adão pecou por vontade própria. Ele não foi coagido por Deus ou por qualquer outra criatura a cometer o primeiro ato de pecado. Esse pecado não resultou na corrupção da sua natureza. Nem causou a morte natural porque Adão foi criado mortal. O pecado de Adão resultou, sim, em "morte espiritual", que não era a perdad da habilidade moral ou uma corrupção inerente, mas a condenação da alma por causa do pecado.

10) A décima premissa - é que a progenitura de Adão não herdou a morte natural e nem a morte espiritual. Sua descendência morreu porque também era mortal. Se seus descendentes experimentaram a morte espiritual, isso se deu porque, de forma semelhante, também pecaram. Eles não experimentaram a morte espiritual por causa de Adão.

11) A décima primeira premissa - afirma que nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transfimitos a sua descendência. Pelágio considerava a doutrina do pecado transmitido (tradux peccati) - e a do pecado original (peccatum orignis) como uma doutrina blasfema arraigada no maniqueísmo. Pelágio insistia que seria injustiça de Deus transmitir ou imputar o pecado de um homem a outros. Deus não introduziria novas criaturas a um mundo onerado com o peso de um pecado que não era delas. O pecado original envolveria uma mudança na natureza constituinte do homem de boa pra má. O homem se tornaria naturalmente mau. Se o homem fosse mau por natureza, tanto antes quanto depois do pecado de Adão, então Deus seria novamente considerado o autor do mal. Se a natureza do homem se tornou pecaminosa ou má, então estaria também acima da redenção. Se o pecado original fosse natural, então Cristo teria de possuí-lo e seria incapaz de se redimir, muito manos a qualquer outra pessoa.

Schaff faz a seguinte observação sobre essa dimensão da antropologia de Pelágio:"Pelágio, destituído da idéia do todo orgânico da raça ou da natureza humana, via Adão meramente como um indivíduo isolado; ele não deu a Adão nenhum lugar representativo, logo seus atos não acarretavam conseqüência além de si mesmo. Em sua visão, o pecado do primeiro homem consistiu de um único e isolado ato de desobediência ao comando divino. Juliano o compara à ofensa insignificante de uma criança que se permite ser desencaminhada por alguma tentação sensual mas que depois se arrepende de sua falha... Esse ato de transgressão único e desculpável não gerou conseqüências à alma e nem ao corpo de Adão, muito menos à sua posteridade, onde todos se mantém ou caem por si mesmos"

Para Pelágio, não há conexão entre o pecado de Adão e o nosso. A idéia de que o pecado poderia ser propagado via geração humana é absurda. "Se seus próprios pecados não prejudicam os pais depois da sua conversão", diz Pelágio, "muito menos os pais podem prejudicar seus filhos".

12) A décima segunda premissa conclui que todos os homens são criados por Deus na mesma posição que Adão gozava antes da queda. Há duas diferenças essenciais entre Adão e sua descendência; mas essas diferenças não são essenciais. A primeira é que Adão foi criado como um adulto; sua descendência teve de desenvolver sua habilidade quanto à razão. A segunda diferença é que Adão foi colocado num jardim paradisíaco ande não prevelacia o costume do mal; sua descendência nasce em uma sociedade ou ambiente no qual o costume do mal prevalece. No entanto, as crianças ainda nasce sem pecado.

Por que, então, a universalidade virtual do pecado? Pelágio atribui a imitação e a longa prática do pecado: "Porque nenhuma outra causa faz com que tenhamos dificuldades de fazer o bem do que o longo costume dos vícios que nos infectam desde a infância e gradualmente, através dos anos, nos corrompem e , assim, nos mantém abrogados e devotados a eles, parecendo, de alguma forma, ter a força da natureza".

Nessa passagem, Pelágio parece chegar perto de admitir o pecado original. A palavra-chave, no entanto, é parecendo. O pecado, na verdade, não tem "a força da natureza", a despeito da sua presença difundida.

13) - A décima terceira premissa é que o habito de pecar enfraquece a vontade. Esse enfraquecimento, no entanto, deve ser entendido no sentido acidental. O costume de pecar obscurece o nosso pensamento e nos conduz aos maus hábitos. Mas esses hábitos descrevem uma prática, não algo que realmente "habita a vontade". A vontade não é enfraquecida; ela não passa por uma mudança constituinte. Ela ainda retém a postura da indiferença sempre que uma decisão ética ou moral precisa ser tomada.

14) - A décima quarta premissa - de Pelágio revela o início de um conceito da graça: A graça facilita a bondade. A graça de Deus faz com que seja mais fácil para nós seros justos. Ela nos assiste em nossa busca da perfeição. Mas o ponto crucial de Pelágio é que, embora a graça facilite a justiça, ela não é, de forma alguma, essencial para que alcancemos essa justiça. O homem pode e deveria ser bom em a ajuda da graça.

"A resolução pelagiana do paradoxo da graça foi baseada numa definição de graça fundamentalmente diferente da definição agostiniana, e foi aí que o debate apertou", observa Joroslav Pelikan. "Espalhou-se que Pelágio estava 'contestando a graça de Deus'. Seu tratado sobre a graça dava a impressão de consentrar-se 'apenas no tópico da faculdade e capacidade da natureza, enquanto fez com que a graça de Deus consistisse quase que inteiramente disso'. Nesse livro, parecia que 'com cada argumento possível, ele defendia a natureza do homem contra a graça de Deus, pela qual o ímpio é justificado e pela qual nós somos cristãos"

15) - A décima quinta premissa - declara que a graça fundamental que Deus dá é aquela dada na criação. Essa graça é tão gloriosa que alguns gentios e judeus têm alcançado a perfeição.
16) - A décima sexta premissa denota a graça dada por Deus em sua lei, a graça da instrução e iluminação. Essa graça nada faz interiormente, mas produz uma definição clara da natureza da bandade. Nas categorias clássicas da virtude, duas coisas distintas foram requeridas: o conhecimento do bem e o poder moral para fazer o bem. Ambos são facilitados pela instrução e ilumimação da lei.

A graça é dada não apenas pela lei, mas também, de acordo com a 17) - décima sétima premissa, por meio de Cristo. Essa graça é também definida como illuminatio et doctrina. A principal obra de Cristo foi nos fornecer em exemplo.

Pelágio escreve, numa carta: "Nós, os que fomos instruídos pela graça de Cristo e nascidos de novo pra uma humanidade melhor, que fomos expiados e purificados pelo seu sangue e incitados a justiça perfeita pelo seu exemplo, devemos ser melhores do que aqueles que existiram antes da lei, e melhores também do que aqueles que estiveram sob a lei"; mas o argumento total dessa carta, emque o tópico é simplesmente o conhecimento da lei como meio poara a promoção da virtude, e também a declaração de que Deus abre os nossos olhos e revela o futuro "quando nos ilumina com o dom multiforme e inefável da graça celestial", prova que para ele... a"assistência de Deus" - consiste, no final, apenas em instrução.

A doutrina da graça de Pelágio é meramente o outro lado da sua doutrina do pecado. Por todo o seu pensamento, permanece a afirmação fundamental da inconversibilidade da natureza humana. Tendo sido criado boa, ela sempre permanece boa.

18) - A décima oitava premissa é que a graça de Deus, é compatível com sua justiça. A graça não fornece benefício adicional a natureza humana, mas é dada por Deus de acordo com o mérito. Em última análise, a graça é merecida.

Podemos resumir os dezoito pontos do pensamento pelagiano como se segue:

01. Os mais altos atributos de Deus são sua retidão e justiça.

02. Tudo o que Deus criou é bom.

03. Como alogo criado, a natureza não pode ser mudada na sua essência.

04. A natureza humana é inateravelmente boa.

05. O mal é um ato que nós podemos evitar.

06. O pecado vem via armadilhas satânicas e concupiscência sensual.

07. Pode haver homens sem pecado.

08. Adão foi criado com livre-arbítrio e santidade natural.

09. Adão pecou por livre vontade.

10. A descendência de Adão não herdou dele a morte natural.

11. Nem o pecado de Adão nem sua culpa foram transmitidos.

12. Todos os homens são criados como Adão era antes da queda.

13. O hábito de pecar enfraquece a vontade.

14. A graça de Deus facilita a bondade mas não é necessária para se alcançá-la.

15. A graça da criação produz homens perfeitos.

16. A graça da Lei de Deus ilumina e instrui.

17. Cristo trabalha principalmente pelo seu exemplo.

18. A graça é dada de acordo com a justiça e mérito.

O Curso da Controvérsia.

A controvérsia pelagiana surgiu por volta de 411 ou 412 em Cartago. Coelestius, discípulo de Pelágio, tentava ser nomeado presbítero em Cartago. Paulinius o denunciou com a acusação de que ele ensinava que o batismo de unfantes não objetivava a purificação do pecado. Harnack lista os itens da denúncia de Paulinius: Pelágio ensinava "que Adão foi feito mortal e teria morrido se tivesse ou não pecado - que o pecado de Adão só trouxe prejuízo a ele mesmo e não a raça humana - infantes, quando nascem, estão no estado em Adão estava antes do seu erro -que a raça humana não morre por causa da morte de Adão e do seu erro e nem ressuscitará em virtude da ressurreição de Cristo - tanto a lei quanto o Evangelho admitem os homens no reino dos céus - mesmo antes do advento de nosso Senhor, houve homem impecáveis, isto é, homens sem pecado - que o homem pode estar sem pecado e pode facilmente manter os comandos deivinos se assim desejar".

O Sínodo de Cartago excomungou Coelestius. Ele, então, retirou-se para Éfeso onde conseguiu tornar-se presbítero. Enquanto isso, Pelágio desejando evitar qualquer grande controvérsia, havia viajado pra a Palestina. Antes disso, havia visitado Hippo, mas Agostinho estava fora e assim, não se encontraram. De Jerusalém, Pelágio escreveu uma carta lisonjeira a Agostinho. Este respondeu com uma carta cortês mas cautelosa. Agostinho ainda estava se recuperando da pressão da controvérsia donastia e sabia pouco sobre a controvérsia que estava se formando em Cartago com Coelestius. Agostinho recebeu notícias de Jerusalém de que o ensino de Pelágio estava causando um tumulto por lá.

Orósio, um amigo e discípulo de Agostinho, solicitou uma sindicância contra Pelágio em 415, mas Pelágio foi exonerado. Em dezembro desse ano, um sínodo palestino denunciou alguns escritos de Pelágio. Quando o sínodo exigiu que ele renunciasse ao seu ensino de que o homem pode estar sem pecado sem a ajuda da graça, Pelágio capitulou. Ele disse, "eu os anatemizo como insensatos, não como heréticos, visto não ser caso de dogma". Ele repudiou o ensino de Coelestius dizendo: "Mas as coisas que declarei não sendo minhas, eu, de acordo com a opinião da santa igreja, reprovo, pronunciando um anátema a todo aquele que se opuser".

Como resultado, Pelágio foi pronuciado ortodoxo. Reinhold Seeberg chama a resposta de Pelágio de "mentira covarde". Isso deixou Pelágio com a difícil tarefa de recuperar a sua credibilidade diante de sus próprios defensores. Ele escreveu quatro livros, incluindo De natura e De líbero arbitrio para elucidar suas opiniões.

A igreja da África do Norte não estava satisfeita com os resultados do sínodo. Jerônimo o chamou de "sínodo miserável" e Agostinho disse, "não foi a heresia que foi absolvida lá, mas o homem que a negou". Dois sínodos norte-africanos aconteceram em 416, e ambos condenaram o pelagianismo. Uma carta dos precedimentos foi enviada ao papa Inocência, e esta foi seguida por outra carta de cinco bispos norte-africanos, incluindo Agostinho. Pelágio reagiu com uma carta sua. O papa Inocência se agradou em ser consultado e expressou sua concordância total com a condenação de Pelágio e Coelestius: "Declaramos, em virtude da nossa autoridade Apostólica, que Pelágio e Coelestius estão excluídos da comunhão da Igreja até que se lebertem das armadilhas de Satanás".

No ano seguinte (417), o papa Inocência morreu e foi sucedido pelo papa Zózimo. Pelágio enviou uma confissão de fé bem-composta a Roma, argumentando que havia sido falsamente acusaso e deturpado pelos adversários. Enquanto isso, Coelestius havia ido a Roma e submetido ao papa uma síntese de submissão. O biógrafo de Agostinho, Peter Brown, escreve: "Pelágio apressou-se em obedecer às convocações do Bispo de Roma; ele havia sido precedido por um bispo Heros e Lázaro, eram inimigos pessoas de Zózimo... numa sessão forma, Zózimo recusou pressionar Coelestius e, assim, pôde declarar-se satisfeito. Pelágio obteve uma saudação ainda mais calorosa em meados de setembro. Zózimo disse aos africanos..., 'Quão profundamente cada um de nós foi movido! Dificilmente alguém presente poderia reter as lágrimas ao pensamento dessas pessoas de fé genuína terem sido difamadas".

O julgamento de Zózimo não encerrou o assunto. A igreja norte-africana convocou um concílio geral em Cartago em 418 ao qual compareceram mais de duzentos bispos. O concílio lançou vários cânones contra o pelagianismo, incluindo o seguinte:

"Todo aquele que diz que Adão foi criado mortal e teria, mesmo sem pecado, morrido por necessidade natural, seja anátema...

Os cânones prosseguiram condenando as seguintes doutrinas: "que... o pecado original ( não é) herdado de Adão; que a graça não ajuda com relação aos pecados futuros; que a graça consiste apenas em doutrinas e mandamentos; que a graça apenas faz com que seja mais fácil fazer o bem; (e) que os santos expressam a quinta súplica da oração do Senhor não por si mesmos, ou apenas por humildade"

Zózimo, então, retratou-se quanto a sua posição anterior e publicou uma epístola requerendo que todos os bispos subscrevessem os cânones desse conselho. Dezoito bispos, incluindo Juliano de Eclanum, recusaram-se. Historiadores uniformemente consideram Juliano como o mais capaz e astuto defensor da teologia pelagiana. Ele forçou sua causa com cartas ao papa e com uma crítica mordaz às visões de Agostinho. Quando Banifácio secedeu Zózimo, ele persuadiu Agostinho a refutar Juliano, e esse trabalho o ocupou até a sua morte. Dezessete dos dezoito bispos que resistiram à epístola papal, retrataram-se subsequentemente. Apenas Juliano persistiu. Depois de ser desposado do seu cargo, refugiou-se, juntamente com Coelestius, em Constantinopla, onde em 429 recebeu as boas vindas do patriarca Nestor. Pouco se sabe da vida subseqüente de Pelágio e Coelestious. A aliança de Juliano e Nestor não o ajudou porque o póropio Nestor foi mais tarde condenado por causa da heresia que levava seu nome.

O terceiro conselho ecumênico em Éfeso (431 d.C), realizado um ano após a morte de Agostinho, conenou o pelagianismo. Schaff faz a seguinte observação sobre o sistema de pensamento pelagiano:

"Se a natureza humana não é corrupta, e a vonta de natural é competente para todo o bem, não precisamos de um Redentor para criar em nós uma nova bondade e uma nova vida, mas apenas de alguém que nos melhore e enobreça; e a salvação é, essencialmente, obra do homem. O sistema pelagiano realmente não tem lugar para as idéias de redenção, expiação, regeneração e nova criação. Ele as substitui pelos nossos próprios esforços de aperfeiçoar nosso poderes naturais e a mera adição da graça de Deus como suporte e ajuda valiosa. Foi somente por uma feliz inconsistência que Pelágio e seus adeptos tradicionalmente permanecem nas doutrinas da igreja da Trindade e da pessoa de Cristo. Logicamente, seu sistema condizia a uma Cristologia racionalista".
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