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Martinho Lutero

01/05/2009

Ruptura de plataforma vai fazer subir nível do mar!




por ANA BELA FERREIRA

A ponte que ligava a Plataforma de Wilkins à Antárctida cedeu e abriu o caminho para glaciares chegarem à água. Um fenómeno que segundo os especialistas vai fazer subir o nível do mar e que aconteceu mais depressa do que estava previsto. Esta é a mais recente catástrofe de grandes dimensões atribuida ao aquecimento global.

As consequências do aquecimento global estão a verificar-se mais depressa do que os cientistas esperavam. O colapso, no domingo, da ponte de gelo que ligava a Plataforma de Wilkins à Antárctida e o consequente aumento do nível do mar são exemplo disso.

"Este colapso aconteceu mais depressa do que era esperado e é mais grave porque a plataforma se encontrava na parte mais fria da Antárctida", explica o geógrafo Gonçalo Vieira.

O especialista da Universidade de Lisboa acrescenta que com a ruptura, deixa de existir a barreira que impedia o acesso dos glaciares terrestres ao mar, levando assim à subida do nível das águas. Ou seja, "agora o gelo flui mais rapidamente para o mar provocando a subida do seu nível", conclui.

Gonçalo Vieira alerta que "o aumento das temperaturas nos últimos anos tem acelerado a degradação das plataformas, aumentando a velocidade de deslocação para o mar dos glaciares". E isto é "preocupante", garante o geógrafo.

Embora neste momento a comunidade científica tenha "mais dúvidas que certezas", certo é que "o Homem está a contribuir para o aquecimento global", assegura o especialista. E a tendência é para que o aquecimento do planeta continue, independentemente das medidas que possam ser tomadas de imediato.

Gonçalo Vieira, que já esteve na Antárctida, garante que apesar da redução de gelo, "grande parte do continente está estável".

Uma visão menos alarmista tem o geógrafo da Universidade de Coimbra, Lúcio Cunha. "Acredito que 90% destes fenómenos são naturais e ligar as oscilações naturais que acontecem na Terra ao aquecimento global pode ser exagerado", refere.

O professor universitário lembra que "nem toda a Antárctida está a perder gelo. Existe uma parte que está a ganhar e não me parece que o balanço seja de perda de gelo", sublinha.

Lúcio Cunha diz que "não podemos dizer que uma parte está a ganhar gelo de forma natural e outra está a perder por acção do Homem". Assim, defende que são "precisos mais estudos e conclusões mais concretas".

O geógrafo admite, no entanto, que "temos de nos precaver e parar de poluir e reduzir o consumo de combustíveis fósseis". Até porque, existem sinais da Terra que devemos interpretar com cautela, frisa.

Certo é que a queda da ponte de gelo era esperada, mas não para já. A estrutura tinha quase 100 quilómetros em 1950 e desde a década de 1990 vinha progressivamente a perder tamanho.

Agora à deriva a plataforma de Wilkins, com uma dimensão igual à da Jamaica, vai flutuar pelo oeste do pólo. A acompanhar o percurso da plataforma de perto vai estar uma equipa de investigadores.