Por Augustus Nicodemus Lopes
A
formação de pastores é crucial para a saúde da igreja cristã. Maus
pastores põem a perder igrejas inteiras e marcam negativamente a vida de
centenas e milhares de pessoas, a depender do alcance de seus
ministérios.
Desde os
seus primórdios, o Cristianismo se preocupou com a preparação e
capacitação de seus líderes. O próprio Senhor Jesus, como judeu que era,
aos doze anos passou pela iniciação judaica e aprendeu com seus pais e
os mestres rabinos a lei de Deus, e nisto os excedeu, conforme lemos no
episódio em que ele ficou no templo discutindo com os mestres da lei.
Os
apóstolos que ele chamou foram submetidos a três anos de rigoroso
treinamento. Ouviram a exposição da mensagem do Antigo Testamento feita
pelo Senhor, fizeram perguntas e tiveram respostas, discutiram entre si
as coisas de Deus, fizeram vários estágios ao serem mandados pregar e
exercitar o poder do Reino nas cidades e conviveram com o mestre,
aprendendo de suas atitudes. E mesmo assim, depois de três anos de
seminário com Jesus, ainda não estavam totalmente prontos, como os
Evangelhos nos dizem!
Mais
adiante, surge Paulo, cujo treinamento anterior à conversão consistiu do
aprendizado durante anos aos pés de um dos melhores rabinos da época,
Gamaliel, afora seu treinamento em sua cidade natal, Tarso, que era
rival de Atenas em intelectualidade e cultura.
Ao
colocar os requerimentos para o pastorado, Paulo exige que o que aspira
ao episcopado (outro nome para presbiterato=pastorado) deve entre outras
coisas ser "apto para ensinar" (1Tim 3:2), "apegado à palavra fiel, que
é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo
reto ensino como para convencer os que o contradizem" (Tit 1:9). Ou
seja, de acordo com a Bíblia os pastores têm que ser teologicamente
capazes, apologeticamente argutos e hábeis no ensino. Quer dizer, eles
têm que ser mestres da Palavra. Não é à toa que ao elencar os dons
básicos para a edificação da Igreja que Paulo coloca "pastores e
mestres" como se fossem uma mesma coisa (Ef 4:10).
Agora me
expliquem como é que se formam líderes assim nos dias de hoje? O
instrumento de trabalho deles será a Bíblia, que foi escrita a mais de 2
mil anos em grego, hebraico e aramaico numa cultura diferente da nossa.
Um livro que tem sofrido nas mãos dos intérpretes durante milênios. Um
livro que é reivindicado como a base de toda sorte de heresias e
ensinamentos estranhos que aparecem por ai. Como alguém pode querer hoje
cumprir os requerimentos de Paulo para a liderança sem treinamento,
estudo, discipulado, confronto, comparações, leituras, coisas que
demandam tempo, bastante tempo, para não falar de maturidade, humildade,
santidade, oração e submissão a Deus?
É
ingenuidade pensar que basta ler a Bíblia e pronto - se for homem de
oração, piedoso e espiritual, está pronto para liderar o povo de Deus. É
desconhecer a história bíblica e da Igreja achar que o treinamento
teológico intenso é bobagem. É por isto que está esta confusão toda aí,
denunciada pelas revistas seculares inclusive.
Não
estou dizendo que somente seminários com cursos completos de teologia é
que preparam bons pastores. É evidente que não. O que estou dizendo,
todavia, é que não se pode hoje dispensar o treinamento teológico
intenso na boa teologia e na sã doutrina. As igrejas têm seus próprios
mecanismos e meios para isto. Não me importo quais sejam, desde que
cumpram o que Paulo disse.
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