por Robert Murray M'Cheyne
Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia (João 6.44)
Quão surpreendente é a depravação do homem natural!
As
Escrituras nos ensinam isso abundantemente. Todo pastor fiel levanta a
sua voz como uma trombeta, para mostrar isto às pessoas. E a primeira
obra do Espírito Santo, no coração, é convencer do pecado.
Na
Palavra de Deus, não existe uma descoberta mais terrível sobre a
depravação do homem natural do que estas palavras do evangelho de João.
Davi afirmou: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha
mãe” (Sl 51.5). Deus falou por meio do profeta Isaías (48.8): “Eu sabia
que procederias mui perfidamente e eras chamado de transgressor desde o
ventre materno”. E Paulo disse: “Éramos, por natureza, filhos da ira,
como também os demais” (Ef 2.3). Mas nesta passagem de João somos
informados de que a incapacidade do homem natural e sua aversão por
Cristo são tão grandes, que não podem ser vencidas por qualquer outro
poder, exceto o poder de Deus. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me
enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.44).
Nunca houve um mestre como Cristo. “Jamais alguém falou como este homem”
(Jo 7.46). Ele falava com muita autoridade, não como os escribas, mas
com dignidade e poder celestial. Ele falava com grande sabedoria. Falava
a verdade sem qualquer imperfeição. Seus ensinos eram a própria luz
proveniente da Fonte de Luz. Ele falava com bastante amor, com o amor
dAquele que estava prestes a dar a sua vida em favor de seus seguidores.
Falava com mansidão, suportando a ofensa contra Ele mesmo vinda dos
pecadores, não ultrajando quando era ultrajado. Jesus falava com
santidade, porque era Deus “manifestado na carne”. Mas tudo isso não
atraía os seus ouvintes. Nunca houve um dom mais precioso oferecido aos
homens. “O verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá... Eu sou o pão
da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais
terá sede” (Jo 6.32, 35). O Salvador de que as pessoas condenadas
necessitavam estava diante delas. Sua mão lhes foi estendida. Ele estava
ao alcance delas. O Salvador ofereceu-lhes a Si mesmo. Oh! Que
cegueira, dureza de coração, morte espiritual e impiedade desesperadora
existem na pessoa não-convertida! Nada pode mudá-la, exceto a graça do
Todo-Poderoso. Ó Homem destituído da graça de Deus, seus amigos o
advertem, os pastores clamam em voz alta, a Bíblia toda o exorta.
Cristo, com todos os seus benefícios é colocado diante de você. Todavia,
a menos que o Espírito Santo seja derramado em seu coração, você
permanecerá um inimigo da cruz de Cristo e destruidor de sua própria
alma. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.
Quão invencível é a graça de Jeová!
Nenhuma
criatura tem o poder de atrair o homem a Cristo. Exibições, evidências
miraculosas, ameaças, inovações são usadas em vão. Somente Jeová pode
trazer a alma a Cristo. Ele derrama seu Espírito com a Palavra e a alma
sente-se alegre e poderosamente inclinada a vir a Jesus.
“Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder” (Sl
110.3). “Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil?” (Gn
18.14.) “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do
Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina” (Pv 21.1).
Considere
um exemplo: um judeu estava assentado na coletoria, próxima à porta de
Cafarnaum. Sua testa estava enrugada com as marcas da cobiça, e seus
olhos invejosos exibiam a astúcia de um publicano. Provavelmente ele
ouvira falar de Jesus; talvez o tivesse ouvido pregando nas praias do
mar da Galiléia. Mas seu coração mundano ainda permanecia inalterado,
visto que ele continuava em seu negócio ímpio, assentado na coletoria. O
Salvador passou por ali e, olhando para o atarefado Levi, disse-lhe:
“Segue-me!” Jesus não disse mais nada. Não usou qualquer argumento,
nenhuma ameaça, nenhuma promessa. Mas o Deus de toda graça soprou no
coração do publicano, e este se tornou disposto. “Ele se levantou e o
seguiu” (Mt 9.9). Agradou a Deus, que opera todas as coisas de acordo
com o conselho da sua vontade, dar a Mateus um vislumbre salvador da
excelência de Jesus; a graça caiu do céu no coração de Mateus e o
transformou. Ele sentiu o aroma da Rosa de Sarom. O que significava o
mundo agora para ele? Mateus não se importava mais com os lucros, os
prazeres e os louvores do mundo. Em Cristo, ele viu aquilo que é mais
agradável e melhor do que todas essas coisas do mundo. Mateus se
levantou e seguiu a Jesus.
Aprendamos
que uma simples palavra pode ser abençoadora à salvação de almas
preciosas. Frequentemente somos tentados a pensar que tem de haver algum
argumento profundo e lógico para trazer as pessoas a Cristo. Na maioria
das vezes colocamos nossa confiança em palavras altissonantes. No
entanto, a simples exposição de Cristo aplicada ao coração pelo Espírito
Santo vivifica, ilumina e salva. “Não por força nem por poder, mas pelo
meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). Se o Espírito age
nas pessoas, estas simples palavras: “Segue a Jesus”, faladas em amor,
podem ser abençoadas e salvar todos os ouvintes.
Aprendamos
a tributar todo o louvor e glória de nossa salvação à graça soberana,
eficaz e gratuita de Jeová. Um falecido teólogo disse: “Deus ficou tão
irado por Herodes não lhe haver dado glória, que o anjo do Senhor feriu
imediatamente a Herodes, que teve uma morte horrível. Ele foi comido por
vermes e expirou. Ora, se é pecaminoso um homem tomar para si mesmo a
glória de uma graça tal como a eloquência, quão mais pecaminoso é um
homem tomar para si a glória da graça divina, a própria imagem de Deus,
que é o dom mais glorioso, excelente e precioso de Deus?” Quantas vezes o
apóstolo Paulo insiste, em Efésios 1, que somos salvos pela graça
imerecida e gratuita? E como João atribui toda a glória da salvação à
graça gratuita do Senhor Jesus — “Àquele que nos ama, e, pelo seu
sangue, nos libertou dos nossos pecados... a ele a glória e o domínio
pelos séculos dos séculos. Amém!” (Ap 1.5, 6). Quão solenes foram as
palavras de Jonathan Edwards, em sua obra Personal Narrative (Narrativa
Pessoal)! “A absoluta soberania e graça gratuita de Deus, em demonstrar
misericórdia àquele para quem Ele quer expressar misericórdia, e a
absoluta dependência do homem quanto às operações do Espírito Santo têm
sido para mim, frequentemente, doutrinas gloriosas e agradáveis. Estas
doutrinas têm sido o meu grande deleite. A soberania de Deus parece-me
uma enorme parte de sua glória. Tenho sentido deleite constante em
aproximar-me de Deus e adorá-Lo como um Deus soberano, rogando-Lhe
misericórdia soberana”.
Ao sentir-me à graça um grande devedor
Sou constrangido sempre, a todo instante!
Que esta graça, com algemas, meu Senhor,
Prenda somente a Ti meu coração hesitante.
Robert
Murray M’Cheyne (1813-1843) foi ministro de St Peter’s Church Dundee,
Escócia (1836-1843). Foi um piedoso pastor evangélico e evangelista com
grande amor pelas almas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário