Por Rev. John Macarthur-
Numa manhã de domingo, eu estava terminando de pregar quando, de repente, um homem se aproximou do púlpito, gritando em alta voz: "Eu tenho algo a dizer. Eu tenho algo a dizer!" Antes que os porteiros pudessem escoltá-lo para fora, o gravador captou o que ele gritara à congregação: "Vocês são falsos religiosos, hipócritas materialistas. Se vocês amassem mesmo a Deus, se livrariam de seus carros e casas luxuosas e dariam tudo o que têm aos pobres. Vocês serviriam a Deus na pobreza como o fez Jesus". Essa era a opinião dele a respeito de espiritualidade, e ele queria que todo mundo soubesse. Felizmente, esse tipo de comportamento é incomum. Mas esse conceito a respeito de espiritualidade não é nada incomum. Ele é chamado de ascetismo, e tem ameaçado a igreja por séculos. De fato, foi um dos heréticos aditivos sobre os quais Paulo advertira os cristãos em Colossos a evitarem:
Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquilo outro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? pois que todas estas cousas, com o uso, se destroem. Tais cousas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e falsa humildade, e rigor ascético; todavia não tem valor algum contra a sensualidade.
(Colossenses 2.20-23)
Um asceta é alguém que vive uma vida de rigorosa auto-abnegação como meio de adquirir perdão de Deus. Os extremos do ascetismo são em geral associados ao monasticismo, que apelava a pessoas que acreditavam que a expiação do pecado e, portanto, a verdadeira espiritualidade exigia pobreza extrema ou renúncia de tudo, para que alguém se tornasse uma freira ou um monge.
Nosso Senhor requer que tomemos nossa cruz e o sigamos, e há muitos testemunhos das bênçãos provenientes da auto-renúncia. Biblicamente, ela não é uma tentativa de obter perdão ou espiritualidade através de auto-humilhação. Ao contrário, é uma resposta voluntária de um coração dedicado a servir a Cristo a qualquer custo. O ascetismo é um assunto diferente. Ele é motivado por orgulho, e não pela humildade; é uma tentativa de realizar, na energia da carne, um relacionamento justo com Deus, o que só pode acontecer através de uma transformação divina por meio da fé em Jesus Cristo.
Paulo disse que morremos "com Cristo para os rudimentos do mundo" (Colossenses 2.20). Isso significa que não estamos algemados a nenhum sistema religioso que exige algum tipo de abstinência para nos tornarmos aceitáveis a Deus. Os ensinos ascéticos não são sábios nem mesmo úteis. Ao contrário, eles são enganosos ou destrutivos, porque simulam sabedoria e estabelecem um falso padrão de espiritualidade — um padrão que "não tem valor algum contra a sensualidade" (v. 23).
"Não tem valor algum contra a sensualidade" é uma frase difícil de interpretar. Ela pode significar que falsos padrões de espiritualidade marcados pelo legalismo não têm valor para combater os desejos da carne. Isso certamente é verdade. O ascetismo não pode restringir a carne. É por isso que tantos cristãos legalistas caem em obscena imoralidade.
Mais provável, porém, é que a frase signifique que falsos padrões de espiritualidade servem apenas para satisfazer a carne. O ascetismo, que cria um padrão para si mesmo, exalta a carne e faz a pessoa orgulhar-se de seus sacrifícios, visões e realizações espirituais. Tal ascetismo afasta de Cristo e escraviza sua vítima ao orgulho carnal.
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