Por - Digão do Genizah -
Nos meus tempos de adolescência, após minha conversão, dois temas me enchiam de pavor. Um era o governo futuro e terrível do anticristo sobre a terra, e o outro era a apostasia. Hoje, depois de entender-me como amilenista, esse governo futuro do anticristo, que sequer é mencionado no Apocalipse, só me dá sono. É bom entender que as menções de 1 e 2 João levam em um sentido diferente, e o “filho da perdição” de 1Ts 2.3 não nos leva à uma conclusão lógica de um pretenso governo mundial. O outro tema não me apavora mais, mas ainda me entristece e alivia.
Entristece porque é cada vez mais uma realidade palpável no nosso meio. Mas, afinal, o que é apostasia? Segundo a fonte que consultei, o termo “apostasia” aparece duas vezes no NT grego, expressando o abandono da fé cristã. No grego clássico (anterior ao koinê empregado na Bíblia) apostasia significava uma revolta contra um comando militar. No AT, a apostasia era considerada um perigo que ameaçava a segurança nacional (Ex 20.3, 4, 23, Dt 6.14, 11.16) – não podemos nos esquecer que, nos tempos veterotestamentários, não havia a noção de Estado laico que temos hoje. Já nos tempos do NT, quando não havia mais a presença do Estado de Israel, há vários e diversos avisos graves em relação à apostasia: ela seria abundante nos tempos do fim (1Tm 4.1-3, 2Ts 2.3, 2Pd 3.17), seria causada por perseguições (Mt 24.10), tentações (Lc 8.13), incredulidade (Hb 3.12). Mas há ainda três causas geradoras de apostasia que gostaria de discorrer a seguir.
Os falsos mestres (Mt 24.11) são identificados, em 1 e 2 João, como “anticristos” (1Jo 2.18, 22, 4.3, 2Jo 7). João combatia, em suas epístolas (e também no Evangelho) o ensino do gnosticismo, que afirmava que Jesus não era Deus encarnado e eterno, um com o Pai; pelo contrário, Ele não havia encarnado, e Sua morte e ressurreição foram produtos de mera ilusão. Pelo que sei, ainda não se ouviu tal aberração nas igrejas evangélicas, mas é apenas questão de tempo, já que até o arianismo foi tirado da tumba dias atrás. São anticristos produtores de apostasia aqueles que ensinam coisas que afrontam as Escrituras, ensinos tais como a prosperidade a qualquer custo, a vida nababesca como sinal da aprovação de Deus, a inoperância e a limitação de Deus frente ao mal, o descarte da salvação pela graça em favor dos repetidos esforços e sacrifícios feitos para alcançarem o favor de Deus. Os falsos mestres, por sua vez, produzem falsos servos e discípulos, total e completamente comprometidos com o espírito do mundo, e não com o Espírito de Deus. É o que nos diz a Palavra em 2Tm 4.3, 4 (NTLH): Pois vai chegar o tempo em que as pessoas não vão dar atenção ao verdadeiro ensinamento, mas seguirão os seus próprios desejos. E arranjarão para si mesmas uma porção de mestres, que vão dizer a elas o que elas querem ouvir. Essas pessoas deixarão de ouvir a verdade para dar atenção às lendas. E Paulo ainda diz (1Tm 4.1, 2, NTLH): O Espírito de Deus diz claramente que, nos últimos tempos, alguns abandonarão a fé. Eles darão atenção a espíritos enganadores e a ensinamentos que vêm de demônios. Esses ensinamentos são espalhados por pessoas hipócritas e mentirosas, pessoas cuja consciência está morta como se tivesse sido queimada com ferro em brasa. As pessoas mencionadas neste alerta gravíssimo podem ser vistas hoje em dia em qualquer esquina que tenha alguma igreja evangélica, fazendo “trenzinhos” na hora do show (que substituiu o louvor) e dando tchauzinho para Jesus, feito crianças mimadas e abobadas.
Esses falsos discípulos, gerados por falsos mestres, vivem uma vida em que falta o conhecimento sobre a pessoa e a obra e Cristo (1Jo 2.19). podem até mesmo ser extremamente religiosas, o que as torna ainda mais perigosas; podem usar toda a terminologia que pode ser encontrada na Bíblia (“bênção”, “aleluia”, “amém, irmão”, etc.), mas não têm a Bíblia como única regra e fé e prática. E o que é pior, o Jesus que afirmam seguir é um Jesus que é completamente ausente na Bíblia. Corrigindo: até está presente, mas na Palavra usa seu nome verdadeiro, que é Mamom. Enfim, não seguem ao Cordeiro, mas preferem ouvir um simulacro de cordeiro que fala como dragão e até mesmo faz milagres incríveis (Ap. 13.11, 12). Este cordeiro falsificado, que é seguido pelos falsos discípulos e verdadeiros apóstatas, busca poder, riqueza e glória, ainda que às custas do engano (Ap 13.14), o que faz com que os seus seguidores sejam total e completamente identificados com ele (Ap 13.16), em vez de se associarem ao verdadeiro Cordeiro (Ap 14.1).
Fico triste por ver que o que assola a igreja evangélica de hoje não é avivamento, como afirmam alguns, mas sim a apostasia. Nos afastamos cada vez mais dos ensinos do Senhor. Mas esta apostasia também me alivia porque sei, conforme diz a Palavra, que ela é o prenúncio da parousia, ou seja, a apostasia precede o retorno do Senhor. Nosso Rei, que retornará visivelmente de uma vez por todas, e que há de julgar vivos e mortos, dará um basta final a toda esta palhaçada gospel ridícula que vemos ultimamente. Será um tempo em que aqueles que voltaram suas costas a Deus, ainda que usando Seu nome para lucrar muito dinheiro, fama e prestígio, serão desmascarados por completo. Um tempo em que não adiantará se esconder atrás de um púlpito, um microfone, uma guitarra, um grosso volume das Institutas ou atrás de um banco de igreja, pois Jesus conhece aquilo que se passa em nossa essência.
Os homens e mulheres da iniqüidade estão se revelando a cada dia mais (2Ts 2.3). Alguns são declaradamente inimigos de Deus. Outros tentam se disfarçar da melhor maneira que podem, mas seus frutos podres os denunciam (Mt 12.33). Mas uma coisa é certa: a vitória final do Cordeiro real está próxima, a despeito das circunstâncias. Maranata!
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